Trump e uma política fechada em si.

Trump e uma política fechada em si.

Murilo Jambeiro de Oliveira

Brasil, 21 de janeiro de 2025.

O Presidente Donald Trump tomou posse hoje e retirou os Estados Unidos da América do Acordo de Paris, o que era esperado, quem acompanhou as prévias da eleição norte americana, viu na Convenção Republicana todo cantarem junto de Donald Trump: “Drill, baby, drill”. O que em tradução literal é “Perfure, bebê, perfure”. Uma opção de Donald Trump pela exploração de combustíveis fósseis por fratura hidráulica, entoado por todos, e sabido que já não pretendia ser signatário em seu primeiro governo do Acordo de Paris. Nessa altura dos fatos, esse era um dado esperado de grande prejuízo para toda a comunidade internacional, no que diversos países vem trabalhando um difícil acordo desde dezembro de 2015, na COP21, para manter a temperatura global menos de dois graus célsius acima dos níveis pre-industriais, mitigando, sem fazer distinções tão pronunciadas entre países em desenvolvimento e países desenvolvidos, diferente do Protocolo de Quioto. É o abando do consenso de 196 países, talvez o maior consenso em termos ambientais globais que se chegou em toda a comunidade internacional até aqui.

A questão do Acordo de Paris por si só é para se lamentar, mas fundamentalmente na noite de hoje vemos Donald Trump argumentar que deixa a Organização Mundial da Saúde porque em proporção em relação a China os Estados Unidos da América pagam 500 milhões de dólares para a OMS, e a China que é um país maior com mais gente, nas palavras de Donald Trump, paga apenas 39 milhões de dólares. Essa questão, talvez entre os muitos decretos que Donald Trump escolheu para assinar no seu primeiro dia de governo, é extensamente preocupante. Eu já disse em outras ocasiões que até mesmo o constante questionamento do Brasil sobre outras instancias da ONU como o Conselho de Segurança, não podem macular o papel essencial da Organização Mundial da Saúde, por exemplo e muito especialmente. E isso em letras garrafais quer dizer que questões de saúde global, e biossegurança, não atendem por fronteiras geográficas, ou fronteiras físicas, mas são questões que rapidamente ultrapassam as fronteiras físicas entre países, e precisam de medidas de validade global em todas as partes do mundo para que exista contenção possível, e medidas de eficacia imediata e clara na contenção das mais variadas questões de saúde, em nome da biossegurança global. Inclusive dos Estados Unidos da América.

São essas as questões, pode-se entender como de impacto global as duas medidas, um imenso revés a dois grandes consensos. No primeiro caso, a opção por combustíveis fósseis vem na esteira de toda uma nova economia e desenvolvimento verde, que evidentemente não evita o aquecimento global diante da continuidade e agravamento do uso de combustíveis fósseis e suas consequências, mas fundamentalmente a notícia que causa espécie, é a dimensão do esvaziamento das Nações Unidas, e o quanto isso é burro, acho que esse é o termo, é burro o esvaziamento das Nações Unidas, muito especialmente e precisamente, da Organização Mundial da Saúde, que é o grande fiador de que grandes alertas de alastramento de contágio de doenças as mais variadas, sejam feitos de forma a haver uma difusão global de informações, de barreiras sanitárias, e medidas protetivas, nos cinco continentes, ao mesmo tempo, e com urgência, como qualquer país sensato quanto a sua biossegurança deve colaborar e esperar eficácia a presteza dessa agência da ONU.

Pontuar os dois fatos, especialmente notar que a Organização das Nações Unidas se tornou um enorme “vai quem quer” e isso deve assombrar a todos, não só pela ineficácia de seu Conselho de Segurança como Brasil anuncia há muito tempo, estamos vendo por exemplo um cessar-fogo entre Israel-Hamas onde o papel do Conselho de Segurança da ONU não se fez efetivo durante 15 meses, ainda que seja uma questão de engenharia institucional a ser revista, mas acreditar que abdicar de uma instância essencial de biossegurança global, diante do conhecimento acumulado que essas questões não tem fronteiras, e precisam de uma instância de alerta e contenção bem estruturada, é um limite preocupante da não adesão a consensos internacionais fundamentais.

Não obstante, é difícil ainda fazer uma avaliação das afirmações do Presidente Donald Trump. Em termos de geopolítica, Donald Trump é não convencional. Evitou na noite de hoje eleger a Rússia, ou a China, ou o Brasil, ou qualquer outro, como o inimigo externo a ser combatido. Aparentemente segue nessa linha, não elege inimigos com clareza e de forma precipitada, se não ameaça o Panamá e a Groenlândia, é possível afirmar que ataca os direitos difusos da comunidade internacional, poupando até mesmo o TikTok. E esse parece ser um tipo de política específica, que pode caracterizar o governo do Presidente Donald Trump. Não eleger inimigos específicos, evitar confrontos diretos e determinados, optando pelo dissenso mais amplo. Há lucros circunstanciais nisso, como no caso da manutenção de uma politica agressiva para combustíveis fósseis, em detrimento do grande desastre ambiental que não poupa ninguém, nem mesmo os Estados Unidos como vemos nos incêndios em Los Angeles, e fundamentalmente, passa-se a operar uma outra lógica, que é a mesma que eu alego acometer dez entre dez brasileiros, quando se fala que algo é de todos, o brasileiro quando se diz que algo é de todos, entende que algo não é de ninguém. É a lógica do Presidente Donald Trump ao que parece, o que é de todos aparentemente não é de ninguém. E como assevero há limites mais claros ainda que os ecológicos que tem uma gama de providências em curso, há o imperativo de biossegurança da Organização Mundial da Saúde, entre ricos e pobres, grandes e pequenos, e especialmente entre ricos que querem se manter numa parte saudável do planeta Terra. Sem uma logística global, isso não é possível.

Para além, há dados para se observar, como a ampliação dos Acordos de Abraão, com a inclusão da Arábia Saudita. De alguma forma, o Presidente Donald Trump tem alinhavado melhores relações para o Oriente Médio, e quanto mais Donald Trump não demoniza um determinado ator em cada um dos cinco continentes, mas procura defesas circunstanciais de interesses comerciais os mais variados, propõe uma espécie de paz absolutamente diversa do que seu antecessor Joe Biden. Esse, Joe Biden, primava pela educação impecável em relação aos grandes consensos internacionais, mas tinha o país naufrago em posições marcadas de apoio ou oposição a determinados atores, que simplesmente não deram respiros de esperança em diversos conflitos. O Presidente Joe Biden na realidade consegue, ao fim do governo, apresentar uma economia interna dos Estados Unidos da América a pleno emprego, consegue ser respeitoso e colaborativo com todos os grandes consensos globais, mas não consegue ter uma presença no mundo menos hostil. E o Presidente Donald Trump, inova numa espécie de hostilidade gasta, retrocede em dados internos, mas usa de um diversionismo, de uma suposta hostilidade que não inova nem avança em relação a outras nações de forma ainda tão evidente, que faz pensar sobre os estilos de homem público propostos para governar o país mais rico do mundo. Populismos e subterfúgios, as vezes caros e burros, as vezes circunstanciais e diversionistas, que podem gerar folego momentaneamente aos Estados Unidos da América, e se muito, é esse o ponto, se a despeito de tudo, gerar um tipo de discussão que a despeito de globalmente desarmoniosa, pode realmente voltar os Estados Unidos da América para dentro de si, e não para a continuidade de hostilidades por todo o globo terrestre. Ao primeiro dia de governo passamos a régua com esse novo estilo de desarmonia, oportunista e diversionista, que excetuada por exemplo a falta de prevenção a catástrofes já vistas e cada vez mais evidentes, responde de forma populista a seu público interno primordialmente, sem se colocar diametralmente oposto em conflitos latentes.

Movimentos previstos de uma determinada direita de países desenvolvidos, para onde se escoa o capital e não pessoas atrás desse capital. Um fechamento de países ricos. Uma linha mestra da política global. Quando toda a Europa tende ao mesmo. E se de menor enfrentamento de atores em flagrante conflito, trocando por questões mais polêmicas que graves no xadrez mundial, voltando-se para questões internas, e não questões realmente prementes, acredito que aqui temos alguém falando de questões geopolíticas menores, ao mesmo tempo que maximiza todas as demandas internas a revelia da comunidade internacional, especialmente, e talvez somente. A questão é essa, não causa surpresa e não se agrava, se voltado cada vez mais para questões internas, sem eleger e encampar militarmente a desordem internacional contra atores como Rússia e China. Os Estados Unidos da América se fecha, adota o impopular que o seja que imediatamente lhe traga benefício econômico, e evita a declaração de guerra. Embora não faça as melhores contas, quanto a por exemplo, a necessidade de providências transnacionais na área de saúde, que por definição fazem a própria América mais segura, e melhor fechada em si. Como tudo indica seja a questão, um Estados Unidos da América mais fechado em si.

@CoexistenceLaw

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Murilo

Murilo Oliveira is a Brazilian lawyer, the themes proposed here are of variety, without political or religious purposes, as for all those who hold the angelic culture in great esteem. Visit: https://www.flickr.com/photos/198793615@N08

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