Gloria Olivae

Gloria Olivae

L’Osservatore Romano, Roberto Cetera.

Presidente Herzog, quase 10 anos se passaram desde que o Papa Francisco recebeu seu antecessor Shimon Peres e o presidente palestino Mahmoud Abbas em Roma, e juntos plantaram uma oliveira, símbolo da paz, nos Jardins Vaticanos, rezando como filhos comuns de Abraão. No decorrer desses anos, porém, aquela “árvore” não cresceu como deveria. É regada com a oração constante do Papa Francisco pela paz. Como podemos fazer aquela árvore crescer novamente?

Eu me considero um grande fã do Papa Francisco e compartilho sua preocupação e compromisso com a paz. Na nossa terra e no mundo. Eu realmente espero ter a chance de conhecê-lo em breve e conversar com ele sobre como podemos unir nossos esforços pela paz. Infelizmente, devo registrar que o processo de paz com os palestinos está atualmente parado. Por uma variedade de razões objetivas. O primeiro obstáculo, quero dizê-lo com muita franqueza e dor, é dado pela sucessão de atos de terrorismo contra nosso povo, contra civis indefesos. E, acima de tudo, estamos preocupados com atos de terrorismo individual. Nossos cidadãos são atacados e esfaqueados enquanto estão com as crianças no parque ou voltando da oração do Shabat na sexta-feira à noite. Isso está causando um sentimento cada vez mais generalizado de raiva e frustração. O terrorismo é inaceitável, porque está fora até mesmo das duras regras de um conflito.

O segundo grande problema é, a meu ver, a divisão que reina no campo palestino entre Gaza e Cisjordânia, ou seja, entre o ANP e o Hamas. Não podemos esquecer que o objetivo final declarado do Hamas e da Jihad Islâmica, apoiado por Teerã, é a destruição do Estado de Israel. Como é possível dialogar com alguém que quer te destruir? Em maio de 2021, eu mesmo tive que descer a um abrigo para me proteger dos foguetes que desceram sobre nossas cabeças vindos de Gaza. Infelizmente, nos últimos tempos também vimos um aumento do terror na Cisjordânia.

Um terceiro elemento que trava os esforços de paz é dado pela perplexidade do lado israelense sobre o que poderia acontecer no futuro com a atual liderança palestina, como a transição para um novo grupo de liderança poderia ocorrer, já que não há eleições há muitos anos. Acho que, para sair desse impasse, a única perspectiva verdadeira de paz possível deve nascer de baixo; não pode ser apenas o resultado da mediação política. Os líderes precisam conversar novamente. Mas acima de tudo é necessário que surjam iniciativas de diálogo e debate desde a base em ambos os campos, que cada um entenda as dores e sofrimentos do outro. O processo de paz precisa envolver os dois povos, não apenas os políticos. Os dois povos não devem se odiar.

Então, para responder à sua pergunta, estou muito disposto a ir a Roma para ver o Papa Francisco com o meu regador (diz sorrindo, ndr) para revigorar a oliveira. Como já lhe disse extensivamente antes, a minha é a história, e também o presente, de um homem de diálogo. Deixemos de lado, por um momento, a política, e até mesmo a hostilidade ameaçadora que nos atinge de algumas partes como o Irã, e invistamos todos os nossos esforços num diálogo aberto entre judeus, muçulmanos e cristãos da região; entre os povos: este é o verdadeiro processo a ser trabalhado. E será um processo extraordinário, se soubermos participar dele com espírito de homens de boa vontade. Já vejo muitas iniciativas nesse sentido que estão surgindo tanto em Israel quanto na Palestina. No âmbito político, os Acordos de Abraão certamente foram um grande impulso nessa direção.

Leia a entrevista na íntegra no VaticanNews:

https://www.vaticannews.va/pt/mundo/news/2023-07/presidente-israel-isaac-herzog-entrevista-osservatore-romano.html

@CoexistenceLaw

Share this content:

Murilo

Murilo Oliveira is a Brazilian lawyer, the themes proposed here are of variety, without political or religious purposes, as for all those who hold the angelic culture in great esteem. Visit: https://www.flickr.com/photos/198793615@N08

Os comentários estão fechados.